Thursday, April 19, 2007

fisl 8.0





Há muito tempo inciativas de produção multimídia com software livre se articulam por todo o brasil - ESEEI desde 1999, Laboratório de Conhecimentos Livres no FSM de 2002 uma parceria entre diversos grupos, o Centro de Mídia Independente, Rádio Muda, gt-comunicação FSM e AIJ, Autolabs/sp 2003 e 2004, Oficina de Conhecimentos Livres /nacional 2005, 2006 e 2007). Coletivos descentralizados de todo o brasil co-laboram há pelo menos 5 anos para estimular a produção independente, a arte a a cultura por meio do software livre e da pedagogia da autonomia. Por vezes co-laborando junto a governo em iniciativas incubadas (e apropriadas) pelos burocratas, como Pontos de Cultura, e em festivais internacionais de arte, mídia, tecnologia, comunicação e cultura, como Mídia Tática Brasil, Digitofagia, Submidialogia, Find:E:tático, Cibersalão, Diálogos na Casinha, etc (todos entre 2004 e 2007), entre outros, já há algum tempo vêm-se confundindo, não coincidentemente, o trabalho de ativistas de mídia com os ciclos de reprodução que compactuam com o tempo imposto pelas regras do mercado capitalista, e, neste país contraditório, abarcado também pelo governo.

É assim que o nome cultura livre foi registrado por uma fundação, nada menos do que a Getúlio Vargas, templo neo-liberal da propriedade intelectual. Comparsando-se, o festival de r$140 mil reais apropriou-se do nome Criei Tive Como, versão abrasileirada da licença estadunidense, criado por um ativista e registrado sem seu conhecimento para faturar em cima do conceito de liberdade. Fisl e CTC assim alinham-se, estabelecendo uma fissura de conceitos que é evidenciado pela contradição que carrega:

* a cultura da individualidade. através de convite a pessoas e não aos grupos já estabelecidos que trabalham com cultura e software livre, todos acessíveis por listas públicas, causando a des-mobilização destes grupos para o evento.

* escolha de trabalhos que usam software proprietário (FILE na primeira edição e os artistas do OVERMUNDO na segunda edição, também não coincidentemente outro projeto apoiado pela Petrobrás).

* manipulação do tema cultura através do veto a outras propostas enviadas.

* elitização das apresentações musicais, testemunhadas por um vazio teatro do sesi enquanto desesperadamente ocorria a distribuição de convites ao evento, em vão. enquanto sentia-se o cheiro de ganja oriundo da festa privê no camarim, no auditório ninguém podia beber, aliás nem lá fora, com a cerveja a r$4 reais.

* o próprio nome do festival foi roubado, o autor sendo literalmente enganado pois havia deixado usar o nome somente para a primeira edição do evento, não sendo informado que este seria registrado, e não em licença creative commons é claro, mas sob as leis de direito autoral (pirataria?).

* apropriação dos conceitos de rádio e tv livre, que definitivamente não se concretiza em um estúdio fechado com pessoas e temas previamente escolhidos e com apoio institucional, como ocorreu ali.

A cultura do oitavo fisl foi portanto a cultura da sociedade industrial e da expansão do mercado. A cultura do roubo, da censura e da apropriação de conceitos muito caros às pessoas presentes, à sociedade civil que ali não só não era representada, como pelo contrário, foi visivelmente afastada da real e ativa cultura do software livre. A cultura não esteve ali presente como a intervenção da técnica com o meio, mas como farsa da própria técnica capitalista que se apropria do meio para torná-lo produto, consumí-lo, vendê-lo, des-conceituá-lo. Afinal, todos sabemos que não há cultura sem liberdade, assim como não há liberdade sem igualdade e sem diálogo.

por tati wells e drica velloso

http://midiatatica.org

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